domingo, 23 de abril de 2023

Dois anos de Astrofotografia

Comecei a fazer Astrofotografia há dois anos, durante a pandemia, como uma alternativa à impossibilidade de continuar a fazer naquele momento algumas das minhas atividades normais – as que mais gostava. Até aqui nenhuma novidade, afinal isto está dito na descrição da página e é recorrente nas minhas postagens, mas com o tempo e à medida que a minha ignorância sobre o assunto diminuía eu fui realmente me apaixonando pela atividade.

Quando comecei nada sabia sobre o assunto e até o termo “Astrofotografia” era novidade para mim. Aprendi alguma coisa, mas constato que ainda nada sei quando vejo as fotos, as publicações e comentários de outros entusiastas.

Quando fiz as primeiras astrofotografias de céu profundo, com equipamento fotográfico convencional, me maravilhei com o Universo literalmente se descortinando na minha frente. Havia fotografado a Grande Nebulosa de Carina. Não eram grandes fotos, faltava muita técnica, mas era empolgante ver o que eu podia fotografar do pátio da minha casa.

Fiquei novamente empolgado quando descobri que podia saber em segundos, minutos quais objetos celestes estavam presentes nas minhas fotos de uma parte qualquer do céu, simplesmente enviando-as para um site sem qualquer metadado ou informação. O site Astrometry.net é um projeto parcialmente financiado pela Fundação Nacional de Ciências dos EUA, pela Administração Nacional de Aeronáutica e Espaço dos EUA (NASA) e pelo Conselho Nacional de Pesquisa em Ciência e Engenharia do Canadá que mantém um serviço de calibração astrométrica de astrofotografias gratuito e disponível para o público em geral. Você pode, mas não precisa sequer se registrar para usá-lo. O objetivo do serviço nas palavras dos pesquisadores responsáveis pelo projeto: Construímos este serviço de calibração astrométrica para criar metadados astrométricos corretos e compatíveis com os padrões para cada imagem astronômica útil já obtida, passada e futura, em qualquer estado de desordem de arquivo. Esperamos que isso ajude a organizar, anotar e tornar pesquisáveis ​​todas as informações astronômicas do mundo.” Que maravilha!... além de facilmente poder identificar o que havia fotografado, minhas fotos passam a integrar um repositório mundial de imagens astronômicas... e sem custo!

Meu perfil em Astrometry.net pode ser acessado no link abaixo:

https://nova.astrometry.net/users/28565

Lá encontrarão dados astrométricos completos e outras informações sobre as imagens publicadas neste blog.

E assim, nesses dois anos comecei me interessando por uma atividade como alternativa a outras que não podia mais fazer e acabei fascinado por ela.

terça-feira, 18 de abril de 2023

Centro da Galáxia

O centro da Via Láctea, sua parte mais brilhante, localiza-se entre as constelações de Escorpião e Sagitário. Com as três imagens finais resultantes dos empilhamentos dos conjuntos de fotos das regiões de Sagitário e Escorpião (ver as postagens correspondentes), montei um mosaico usando o "Image Composite Editor", uma excelente ferramenta da Microsoft para fazer panoramas pela combinação de duas ou mais imagens com áreas de sobreposição; grátis, fácil de usar, rápida e com resultados excelentes. Infelizmente, a Microsoft descontinuou o produto, mas ainda é possível baixar a última versão, 2.0.3, da biblioteca digital Internet Archive, tanto para sistemas Windows 32 bits como para sistemas 64 bits. Links a seguir:




O mosaico tem uma resolução de 7455 x 3932 e cobre uma área do céu de 15° x 8°. Anotei na imagem a posição do Centro Galáctico de acordo com suas coordenadas equatoriais

em graus decimais: 266,405100; -28,936175
ascensão reta: 17h 45m 40,04s          declinação: -29° 00' 28,1"

Esse é o centro rotacional da galáxia, o local em torno do qual toda a Via Láctea gira. Está a cerca de 26 mil anos-luz de nós e aí existe um buraco negro com massa equivalente a quatro milhões de vezes a do Sol, que alimenta um fonte de rádio muito compacta, identificada no início dos anos 80 e denominada Sagittarius A*.

Há cerca de um ano, em 12 de maio de 2022, foi apresentada a primeira imagem desse buraco negro, feita por uma equipe global de pesquisadores denominada Event Horizon Telescope (EHT) Collaboration usando observações uma rede mundial de radiotelescópios. Uma reportagem a respeito, assim como a imagem reproduzida ao lado, aparecem na edição de 13/05/2022 do Canaltech:
O comunicado, em inglês, do Event Horizon Telescope pode ser acessado no link abaixo:

A observação de objetos integrantes do bojo da Via Láctea é extremamente dificultada pela poeira interestelar presente no disco galáctico, que ao se interpor na linha de visão absorve a luz visível por eles emitida. Assim, estrelas, aglomerados e outros corpos celestes, como o buraco negro, são observados e estudados através de suas emissões eletromagnéticas em comprimentos de onda maiores que os do espectro visível, como infravermelho e ondas de rádio, que sofrem menos absorção. Olhando na direção do centro da galáxia, normalmente só é possível a observação e a fotografia no espectro de luz visível de objetos que estejam a até cerca de 6500 anos-luz, um quarto da distância total; entretanto, há meia dúzia de "corredores" com densidade de poeira muito baixa, criando janelas para a observação de objetos do núcleo central, no espectro visível ou infravermelho próximo. Destaca-se entre essas janelas, a conhecida como Janela de Baade (Baade's Window), anotada na imagem abaixo, resultante da calibração astrométrica da original feita no software ASTAP (Astrometric Stacking Program).


A Janela de Baade tem um contorno irregular e delimita no céu uma área de 1° de diâmetro em torno do Aglomerado Globular NGC 6522. Próximo à sua borda fica um outro aglomerado globular, o NGC 6528. Ambos fazem parte do bojo da galáxia e estão a mais de 25 mil anos-luz de nós. O NGC 6522 é provavelmente o aglomerado mais antigo da Via Láctea com mais de 12 bilhões de anos.

domingo, 9 de abril de 2023

Aglomerados Estelares Abertos
de Ptolomeu e da Borboleta

 


Ptolomeu e Borboleta são dois aglomerados estelares abertos integrantes do Braço de Órion, localizados na Região da Constelação de Escorpião, na parte contígua à Região de Sagitário.

O Aglomerado de Ptolomeu (Messier 7 - M7), formado por cerca de 80 estrelas com magnitudes entre +6 e +10, é o mais próximo, está a uns 1000 anos-luz. Suas estrelas são quentes e azuis, mas a mais brilhante é uma supergigante amarela com magnitude +5,6.

O Aglomerado da Borboleta (Messier 6 - M6) dista cerca de 1600 anos-luz e é muito menos brilhante. Formado por mais de 300 estrelas, apenas em torno de 80 são mais brilhantes que magnitude +11 e vistas com binóculos ou através de um telescópio pequeno lembram uma borboleta, assim como aqui na foto. Contrastando fortemente com as demais estrelas do aglomerado, azuis, quentes e menos brilhantes, destaca-se a BM Scorpii, uma gigante alaranjada com magnitude variável entre +5,5 e +7.

Além desses dois, vários outros aglomerados aparecem anotados na imagem acima. Para ver os dados astrométricos da imagem e outras informações acesse a página correspondente no meu perfil em Astrometry.net, clicando no link abaixo


sexta-feira, 7 de abril de 2023

Via Láctea - Região de Sagitário/Escorpião

Sem contar com o auxílio de um dispositivo de rastreamento, a ideia era fazer três conjuntos de fotos da mesma região, a das Nebulosas Trífida e da Lagoa, reposicionando a câmera a cada conjunto. Com os recursos de que disponho, o alinhamento da câmera sempre é impreciso e demorado e... a pressa é inimiga da perfeição. Claro, não saiu como esperado, mas até foi bom, porque os três conjuntos de fotos cobriram uma área maior que a inicialmente planejada, estendendo-se em direção à Constelação de Escorpião, e aí "descobri" outros corpos celestes interessantes para fotografar. As imagens resultantes dos dois primeiros conjuntos foram objetos das postagens "Via Láctea - Região de Sagitário" e "Via Láctea - Região de Sagitário II" e cobrem a região onde se localizam as Nebulosas da Lagoa e Trífida e uma região intermediária entre aquela e a desta postagem.


A imagem acima é o resultado do empilhamento, integração, das fotos do terceiro conjunto. O equipamento e o software usados, assim como o local, são sempre os mesmos e estão descritos na aba lateral do blog; o que varia são as configurações. Aqui, como também nos dois primeiros conjuntos, foram feitas 25 fotos com a lente Tamron 18-400 ajustada a 135mm, equivalente a 200mm em "full frame", abertura f/5,6, ISO 3200 e exposição de 2,5s. O empilhamento foi feito no DSS com o método Mediana Corte Kappa-Sigma e aproveitamento de 100%, resultando em tempo de exposição total de 1m e 2,5s. No primeiro conjunto de fotos – Via Láctea - Região de Sagitário, foi usado aproveitamento de 80%, como usualmente faço, mas nos outros dois conjuntos, esse e o anterior, usei 100%, por serem poucas fotos, com pouco tempo de exposição e sem diferenças de qualidade entre si.

Os aglomerados estelares abertos de Ptolomeu, à esquerda, no centro, e da Borboleta, um pouco mais à direita, bem em baixo, estão já na Região da Constelação de Escorpião, que se segue à de Sagitário, à direita na foto.

Essa é a parte mais brilhante da Via Láctea; um observador terrestre voltado para essa direção estará olhando diretamente para o centro da galáxia, onde fica o bojo estelar com bilhões de estrelas. A poeira interestelar presente nos braços espirais que formam o disco galáctico se concentra em grandes nuvens escuras, que absorvem a luz das estrelas e criam aquele aspecto recortado da Via Láctea.


Além dos dois aglomerados citados, vários outros objetos aparecem nesta foto, como outros aglomerados e estrelas da Constelação de Sagitário.

Dados astrométricos e outros recursos para  visualização da imagem podem ser acessados em